
No Dia Mundial da Saúde, celebrado em 7 de abril, profissionais de saúde destacam que uma doença nunca está isolada — ela reflete um contexto mais amplo. É essa a premissa das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (Pics), que propõem um cuidado que vai além dos sintomas, considerando as dimensões físicas, emocionais, sociais e ambientais da vida dos pacientes.
Reconhecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como Medicinas Tradicionais, Complementares e Integrativas (MTCI), as Pics fazem parte da Política Nacional de Saúde no Sistema Único de Saúde (SUS) e abrangem 29 práticas, como fitoterapia, homeopatia, biodança, bioenergia e aromaterapia.
No Paraná, o Projeto Bem Viver promove cursos e intercâmbios que formam multiplicadoras dessas práticas, principalmente entre mulheres do campo. A formação é uma ponte entre agroecologia e saúde popular, promovendo autonomia, o ao cuidado e valorização dos saberes ancestrais.
Realizado pelo Instituto Latino-Americano de Agroecologia Contestado (ICA) com apoio da Itaipu Binacional e da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), o curso tem carga de 130 horas e atividades práticas em espaços como o Horto Medicinal da Itaipu, em Foz do Iguaçu, e o Centro Popular de Saúde Yanten, em Medianeira.
A farmacêutica Ana Carla Prade, do SUS de São Bento do Sul, destaca que a saúde integrativa investiga as causas do adoecimento: “Não se trata apenas da dor de estômago, mas do que a provoca — que muitas vezes é emocional. A partir disso, a abordagem pode incluir desde o uso de plantas medicinais até o acolhimento das emoções, com baixo custo e dentro do SUS.”

As Pics também são ferramenta fundamental em territórios onde a saúde institucionalizada não chega. A Unidade Básica de Saúde Chica Pelega, no Assentamento Contestado, é referência nesse modelo de integração, com terapias como auriculoterapia e uso de horto medicinal, sendo fruto de organização popular.
Maria Natividade de Lima, do Coletivo de Saúde do MST, alerta para o ciclo de envenenamento causado por alimentos e águas contaminadas, que levam ao consumo excessivo de medicamentos:
“Defendemos a farmácia viva, o cuidado que vai à causa, o respeito à natureza e o diálogo com os saberes populares.”
Cláudia Feltrin, moradora do assentamento Eli Vive, em Londrina, ressalta a importância dos saberes ancestrais, como os das parteiras e benzedeiras, e reforça que saúde vai além da ausência de doença:
“É ter direitos garantidos — moradia, saneamento, água de qualidade. É não esquecer de onde viemos.”
O curso é desenvolvido pela Pedagogia da Alternância, combinando teoria e práticas comunitárias. Temas como identificação de plantas medicinais, produção de tinturas e pomadas, dançaterapia, musicoterapia e educação popular em saúde estão na programação. As próximas etapas serão realizadas em junho, com encerramento no campus da Unioeste em Foz do Iguaçu.
Como parte do legado do curso, estão sendo elaboradas uma cartilha sobre saúde popular e três hortos comunitários de plantas medicinais, que ampliarão o o aos fitoterápicos.
A formação integra o conjunto de ações do Projeto Bem Viver, voltadas à agroecologia no estado, como reflorestamento, capacitações em Sistemas Agroflorestais e oficinas artísticas.
Agroecologia e saúde são indissociáveis, como lembra a camponesa Sirlei Moraes, do assentamento Guanabara: “Agroecologia é saúde, e saúde é agroecologia.”