Diferenças entre trabalho formal e informal: direitos, deveres e riscos

Entenda como funcionam as modalidades de ocupação no Brasil, incluindo CLT, MEI, autônomos e informais, e quais são os impactos jurídicos, econômicos e sociais de cada uma

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Atualizado há 1 mês

(Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil).

No Brasil, o mercado de trabalho é formado por diferentes formas de ocupação. Entre elas estão o trabalhador informal, o autônomo, o microempreendedor individual (MEI) e o profissional liberal — todos inseridos no chamado trabalho por conta própria, conceito utilizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O trabalhador por conta própria é aquele que não mantém uma relação subordinada de trabalho. Ou seja, não responde a um chefe nem emprega outras pessoas, atuando de forma independente.

Segundo Felipe Vella Pateo, técnico de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), nem todo informal é por conta própria. Há trabalhadores que, apesar de atuarem sob ordens de um empregador, não possuem carteira assinada. São os chamados assalariados informais.

Pateo explica que, comparado ao trabalhador celetista, o profissional por conta própria pode contribuir com uma alíquota menor para a Previdência Social e está isento de encargos como o FGTS. Tem, ainda, maior autonomia sobre sua jornada e escala. No entanto, abre mão de proteções como férias remuneradas, estabilidade no emprego, seguro-desemprego e uma aposentadoria mais robusta.

O que caracteriza o trabalho informal?

De acordo com Viviann Brito Mattos, titular da Coordenadoria Nacional de Promoção da Liberdade Sindical do Ministério Público do Trabalho (MPT), a informalidade é marcada pela ausência de garantias legais — como carteira assinada, INSS, FGTS e 13º salário. Sem contrato formal, não há obrigações tributárias para o empregador nem contribuições previdenciárias por parte do trabalhador.

Segundo ela, a informalidade não é apenas a falta de documentos, mas uma forma estrutural de inserção precária, com baixa segurança de renda, sem proteção social e sem representação sindical.

Tipos de trabalho por conta própria e informalidade

  • Trabalhador informal: atua sem registro, CNPJ ou contribuição regular ao INSS.

  • Trabalhador autônomo: exerce atividade sem subordinação e pode ser formalizado com CNPJ ou como contribuinte individual.

  • Microempreendedor Individual (MEI): é um trabalhador por conta própria formalizado com CNPJ e enquadrado no Simples Nacional.

  • Profissional liberal: exerce profissão regulamentada e pode atuar de forma autônoma ou com empresa própria, sendo obrigatório o registro em conselho profissional.

Viviann destaca que, apesar da aparente flexibilidade da informalidade, os riscos superam os benefícios:

Vantagens aparentes da informalidade:

  • Menor carga tributária imediata

  • Maior autonomia de horários

  • Entrada rápida no mercado

Desvantagens e riscos:

  • Falta de proteção previdenciária e trabalhista

  • Instabilidade financeira e jurídica

  • Dificuldade de o a crédito, benefícios e qualificação

  • Prejuízos à saúde e à renda futura

Por que o trabalho formal ainda é vantajoso?

Entre os principais benefícios do regime celetista (CLT), destacam-se:

  • Garantia de férias, 13º, FGTS e INSS

  • Proteção contra demissão arbitrária

  • Estabilidade e o a benefícios sociais

  • Apoio de sindicatos e Justiça do Trabalho

O papel do MEI na formalização

Priscila Dibi Schvarcz, vice-coordenadora nacional da Coordenadoria de Combate às Fraudes nas Relações de Trabalho (MPT), explica que o MEI foi criado para promover a inclusão previdenciária e formalização de empreendedores. Com faturamento limitado a R$ 81 mil por ano, o MEI pode emitir nota fiscal, abrir conta PJ e ar crédito.

A contribuição é fixa: 5% do salário mínimo (R$ 75,90 em 2025), mas garante apenas os benefícios básicos da Previdência. Para se aposentar por tempo de contribuição, é necessário recolhimento complementar de 15%.

Dados do IBGE mostram que, em 2022, o Brasil tinha 14,6 milhões de MEIs, representando cerca de 70% das empresas no país e quase 19% dos ocupados formais.

Como funcionam os principais modelos de trabalho?

Modalidade Registro Legal Direitos Garantidos Tributos/Deveres Proteção Social
CLT Carteira assinada Férias, 13º, FGTS, INSS, seguro-desemprego INSS, IR, FGTS Alta
Servidor Público Concurso Estabilidade, aposentadoria diferenciada Contribuição ao RPPS Alta
Informal Nenhum Nenhum Nenhum Muito baixa
Autônomo Pode ou não ter CNPJ Nenhum automático INSS (20%), IR Média-baixa
MEI CNPJ no Simples Nacional o limitado a benefícios Pagamento fixo mensal Média-baixa
Profissional Liberal CNPJ ou F com registro Nenhum automático Contribuições ao INSS, conselho e tributos Variável

A “pejotização” e seus impactos

A prática de contratar trabalhadores como pessoa jurídica (PJ) para mascarar vínculos empregatícios — a chamada pejotização — é ilegal. Conforme a procuradora Priscila Dibi, isso ocorre quando há subordinação, habitualidade e pessoalidade na prestação do serviço, ainda que o trabalhador tenha um CNPJ.

O Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu, no último dia 14, todos os processos judiciais que discutem a legalidade da pejotização no país.

Contratar falsamente como PJ prejudica os trabalhadores, que perdem o a direitos básicos, e também o Estado, que deixa de arrecadar tributos importantes para manter serviços públicos e a Previdência.

A visão social do trabalho CLT

Viviann Mattos observa que muitos jovens aram a ver o trabalho formal de forma negativa, associando a CLT à falta de liberdade ou dependência. Esse imaginário reflete a escassez de oportunidades formais e o apelo do empreendedorismo.

Contudo, ela reforça: “O vínculo celetista representa o a direitos fundamentais e deve ser valorizado. Defender o trabalho formal é defender o trabalho decente”.

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