Doença de Crohn e Retocolite Ulcerativa são destaque no Maio Roxo
A Doença de Crohn e a Retocolite Ulcerativa são destaque durante o Maio Roxo, campanha de conscientização sobre as Doenças Inflamatórias Intestinais (DIIs), patologias que, atualmente, atingem cerca de 100 a cada 100 mil brasileiros segundo a Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SB). Objetivo da ação é, sobretudo, instruir a população sobre a importância do diagnóstico precoce.
“As duas são doenças autoimunes, em que o próprio corpo reage contra o intestino e vai gerando inflamação”, relata o gastroenterologista Ricardo Monte Jr. Tanto a Doença de Crohn quanto a Retocolite Ulcerativa trazem perda de qualidade de vida para o paciente, e possuem pico de incidência em pessoas com 20 a 30 anos, podendo, contudo, acometer o público de todas as idades. “Tem crianças que começam com a Doença de Crohn, crianças novas, às vezes com 5, 6 anos. Tem um novo pico lá entre 50 e 60 também. Mas a maior parte dos casos começa antes dos 40 anos. E quanto mais jovem começar, maior é o sinal de gravidade”, completa.
Para o médico, a campanha do Maio Roxo é de grande importância, inclusive para orientar profissionais sobre as DIIs. Segundo ele, antes do tema começar a ser amplamente debatido, o diagnóstico esbarrava na falta de conhecimento de alguns médicos. “Teve um estudo, que não é muito antigo, do Grupo Brasileiro de Estudo de Doença Inflamatória Intestinal, que indica que a média para o diagnóstico de uma doença de Crohn e Retocolite Ulcerativa eram cinco consultas médicas. E aqui no Brasil, como a gente tem um déficit muito grande de especialistas e pessoas que entendem da doença, às vezes pode durar até um a dois anos para o diagnóstico. E essas doenças, quanto antes diagnosticar e antes tratar, menor o risco de evoluir com sequelas”.
Sintomas e diagnóstico
Dor abdominal e diarreia com muco e sangue. Esses são os principais sinais das DIIs. Entretanto, é importante saber que o diagnóstico requer uma série de exames feitos por um profissional habilitado, que analisará uma tríade de fatores para atestar a existência da doença: sintomas, presença de inflamação no sangue e fezes e alterações vistas na colonoscopia. “Tem que ter sintoma, tem que ter marcador inflamatório e tem que ter achado endoscópico. Então não é uma coisa tão simples, não é numa consulta que você vai chegar no diagnóstico”, aponta Ricardo.
Outro fator que dificulta o diagnóstico é a existência de situações que simulam doenças inflamatórias, como o uso de remédios que podem ter efeitos colaterais similares aos sintomas das DIIs, ou ainda outras doenças, como a tuberculose intestinal, a doença celíaca e a colite microscópica. “A gente tem que ver todo o contexto, por isso que eu falei anteriormente que o diagnóstico não é fácil. Mas quando o diagnóstico é bem realizado e inicia-se o tratamento, a maior parte dos pacientes respondem super bem ao tratamento da doença”.
Tratamento
Tanto a Doença de Crohn quanto a Retocolite Ulcerativa não têm cura, mas é possível que, com o tratamento adequado, o paciente entre em remissão, apresentando cicatrização completa do revestimento afetado e até mesmo podendo pausar o uso de medicação. O que vai determinar o prognóstico das doenças é a gravidade, o grau de extensão das lesões e o grau da inflamação. Um diagnóstico precoce também pode aumentar as chances de um desenvolvimento satisfatório.
O tratamento pode ser feito com uso de corticóides, anti-inflamatórios e imunossupressores no caso da Doença de Crohn. Segundo Ricardo, quando o paciente não responde ao tratamento inicial, parte-se para o uso de imunobiológicos, uma classe de medicamentos mais modernos, que age como um anticorpo contra um agente inflamatório. O custo dessa medicação é alto, podendo custar até R$ 15 mil por aplicação. Porém, é possível conseguir as doses necessárias pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “Não tenha dúvida que esses tratamentos valem a pena, porque se a gente contabilizar o que esse paciente pode complicar, tanto em custo de saúde e internamento, cirurgia. Fora em perdas de horas de trabalho e qualidade de vida, então são situações que valem muito a pena o investimento do governo para tratamento dessas doenças”.
Seguir um protocolo de tratamento é crucial para que o paciente não sofra com complicações debilitantes. No caso da Doença de Crohn, a falta de uma terapia pode acarretar em uma série de problemas, inclusive a retirada de partes do intestino.
Diferenças
Ambas as patologias fazem parte da família das DIIs, mas agem de maneira diferente no corpo. A Retocolite Ulcerativa pode afetar o reto, todo o cólon e o intestino, causando inflamações nas camadas mais superficiais. Já a Doença de Crohn pode acometer qualquer área do trato digestivo, desde a boca até o ânus, podendo inflamar todas as camadas (mucosa, submucosa, muscular e serosa). Não é possível afirmar que uma é mais preocupante que a outra. O que determinará a gravidade será o grau de inflamação e extensão da doença, além da idade e condições físicas do paciente.
Os gatilhos que levam o corpo a desenvolver uma DII ainda são quase um mistério. Fatores genéticos podem levar a uma predisposição, mas muitas vezes o paciente é o primeiro na família a ser acometido pelas patologias. “Tem muita coisa sendo estudada com relação à microbiota, porque a gente já sabe que tem algumas bactérias que têm relação com a doença inflamatória intestinal, algumas s bacterianas, alguns fungos”, explica Ricardo.
O gastroenterologista comenta que até mesmo uma intoxicação alimentar pode ser um gatilho para as doenças inflamatórias intestinais. “Tive uma colega médica que foi para Tailândia e comeu lá um tempero diferente, uma comida diferente. Começou a ter diarreia e quando voltou da Tailândia não melhorou. Ela foi investigar e descobriu que abriu um quadro de Crohn. Então, possivelmente fez uma gastroenterite infecciosa, deve ter entrado em contato talvez com algum condimento alimentar que não estava acostumada, as bactérias reagiram, e isso foi o gatilho imunológico para começar com a doença de Crohn”.
Para o médico, manter uma rotina saudável, com boa alimentação e prática de atividade física é uma boa solução para minimizar a possibilidade de desenvolver as DIIs. “Quando você não está com um bom equilíbrio do seu corpo, ele está sempre inflamado. Isso pode ser um gatilho para ter uma descompensação e o corpo perde esse filtro. Ele acaba perdendo o freio e reagindo contra o próprio corpo”.
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