“Nada do que eu faço hoje é em função do câncer, além do meu tratamento”

Profissional, mãe, esposa, irmã, filha, amiga. Letícia Macedo Crevelim não pode ser definida por um único adjetivo. Neste momento, além de todas essas facetas, Letícia também é paciente oncológica. A doença, entretanto, não é o centro das atenções em sua vida. “É uma coisa que eu tive que adaptar para a minha rotina, que vai acabar e pronto. Não é algo extraordinário em que foco minhas energias. É algo pelo qual eu preciso ar”, diz a jovem de 28 anos.

A descoberta do câncer de mama aconteceu no final do ano ado, mas a história de Letícia com a doença é um pouco mais antiga. Conselheira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Subseção de União da Vitória, a advogada destaca a importância da instituição em seu diagnóstico. Foi durante uma campanha de Outubro Rosa promovida pela Ordem em União da Vitória, com promoção de descontos em exames, que Letícia fez sua primeira mamografia, em 2022.

“Nada do que eu faço hoje é em função do câncer, além do meu tratamento”

Na oportunidade, um caroço foi identificado em sua mama direita. Inicialmente categorizado como grau 2 na classificação BI-RADS, o caroço foi tratado como uma calcificação benigna. A vida seguiu normalmente. No início de 2024, Letícia procurou um ginecologista por sentir muitas dores pélvicas, sendo então diagnosticada com endometriose. Na mesma oportunidade, o médico realizou o exame de toque e percebeu o caroço na mama da jovem. Por não possuir histórico de câncer na família, e em função de a irmã fazer tratamento de nódulos benignos, o caroço não despertou preocupação naquele momento. Entretanto, com o ar dos meses, Letícia começou a notar o nódulo aumentando. “Conforme eu me olhava no espelho, eu percebia que estava ali”.

Veio outubro novamente, e com ele mais uma campanha de Outubro Rosa da OAB. Dessa vez, Letícia assistiu uma palestra sobre câncer de mama e de útero. Todas as informações fornecidas na oportunidade pela Dr. Vanucia Serrano acenderam na jovem um sinal de alerta. “Aquilo foi difícil para mim. Cheguei a comentar com as mulheres que estavam ao meu lado que eu realmente tinha começado a ficar preocupada”.

Mais uma vez, aproveitou os descontos ofertados pela OAB para realizar a mamografia. Enquanto aguardava o resultado, ficou seis dias internada devido a uma grande infecção. Nenhum exame apontava a causa, mas havia uma alteração em seu sangue. Em meados de dezembro, recebeu o resultado da mamografia, que apontava diagnóstico inconclusivo, sendo então indicada a fazer um exame complementar.

Em 13 de dezembro, Letícia realizou o exame de ultrassom das mamas. A radiologista que a atendeu pediu para que a advogada não fosse embora, pois era necessária a realização de uma consulta com um mastologista. “Ali eu entendi. Ali caiu a ficha e ali mesmo eu já caí no choro”, relembra.

Letícia foi então ao encontro do marido, Thiago, que estava em um parquinho com Maria, a filha do casal, aguardando. Levaram a criança para a casa dos avós, e retornaram para a consulta. A advogada recorda que já no primeiro contato com o mastologista foi informada de todos os possíveis os de seu tratamento, sendo bombardeada de informações. “Ele me ou uma receita de bolo, do início ao fim, do que seria o meu tratamento. Isso me deixou muito segura”.

Para ter a confirmação da doença, Letícia precisou fazer uma biópsia. O exame foi realizado no dia 17 de dezembro. Cinco dias depois recebeu o resultado positivo. Veio então a necessidade de conversar com o marido sobre o futuro de ambos e, principalmente, da filha.

Era necessário para Letícia garantir que a filha ficaria bem, o que a tranquilizou para seguir o tratamento. “Estou com câncer. É uma doença que tem cura mas que também pode matar. Eu preciso organizar a vida da minha filha caso aconteça alguma coisa comigo. Foi a primeira coisa que eu pensei”.


Convivendo com o câncer

Letícia explica que, uma vez identificado o câncer, é necessário ar por uma bateria de exames para garantir que a doença não está presente em outras partes do corpo. Praticamente todos os exames necessários foram realizados no Vale do Iguaçu. Apenas a cintilografia óssea, técnica para identificar tumores no esqueleto, e a ressonância foram realizadas em Curitiba.

Na mamografia inicial, foi identificado um nódulo. Na ultrassom, um segundo. E na ressonância, um terceiro. A existência de mais nódulos além do inicial foi tópico de discussão com o médico, que informou que não havia como afirmar se todos já estavam no corpo de Letícia desde o primeiro exame ou se surgiram no decorrer dos dias, visto que cada um foi identificado por uma técnica diferente.

Em 07 de janeiro deste ano, Letícia teve sua primeira consulta com um oncologista, o profissional responsável pelo tratamento com quimioterapia. Em 10 de janeiro, fez a primeira sessão do tratamento. A expectativa é de que a jovem e por oito sessões e, após, realize a mastectomia.

Todos os exames necessários foram pagos por Letícia, que desejava dar celeridade ao processo. Já o tratamento está sendo fornecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Por morar em União da Vitória, o praxe seria que a jovem realizasse as sessões de quimioterapia em Curitiba (PR). Porém, Leticia buscou a possibilidade de ar pelo tratamento em Porto União, no Hospital São Braz, para não precisar ficar longe da filha e conseguir permanecer no trabalho. As sessões são realizadas a cada 21 dias, às sextas-feiras, para que Letícia possa se recuperar durante o final de semana e consiga retornar ao trabalho na semana seguinte. “Para tudo eu tive escolha, e eu fui escolhendo resolver meus problemas”.

Até o momento, Letícia ou por três sessões de quimioterapia. Para ela, a pior parte é o enjoo resultante do olfato que fica mais aguçado. Já a queda de cabelo, algo tão associado ao tratamento, começou duas semanas após a primeira sessão. Quando percebeu que estava perdendo tufos de fios, decidiu raspar a cabeça, e incluiu a filha na decisão.

“Nada do que eu faço hoje é em função do câncer, além do meu tratamento”

Um vídeo postado por Letícia no Instagram mostra como foi. Para deixar o momento mais lúdico, a jovem decidiu brincar de salão de beleza com a filha e o marido. É também na rede social que a advogada compartilha sua rotina como paciente oncológica. “Abri essa parte da minha vida para quem quiser saber”.


Esperança

“A Maria”. Essa é a resposta de Letícia quando questionada sobre o que a mantém com esperança durante o tratamento. A jovem conta que é transparente com a filha a respeito da doença, explicando para a criança todo o processo em termos que a pequena possa entender. “Para ela, meu nódulo é a pedrinha da mamãe”, exemplifica.

Hoje, pouco mais de três meses após o diagnóstico, Letícia encaixou o câncer como um dos aspectos de sua vida, e não como sua única preocupação. Mas ela destaca que, apesar de toda a força que demonstra em público e nas redes sociais, ela também vê a importância de ter seus momentos de fragilidade. Além disso, alerta sobre a importância de prestar atenção aos sinais de que algo não vai bem com a saúde, e de que, sempre que possível, realizar exames de rotina. “Procuro manter a minha vida o mais normal possível porque eu sei que vou ter uma vida depois que o câncer acabar. Nada do que eu faço hoje é em função do câncer, além do meu tratamento, completa.

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