“Com 100 anos vale a pena fazer uma festa”, diz centenário Fredy Baumann
Foram os horrores da Primeira Guerra Mundial que trouxeram os pais de Fredy Baumann para o Brasil. Fugindo da pobreza e da fome, Arthur e Ana saíram da Alemanha em um navio em 1924. Ao chegar em terras tupiniquins, pegaram um trem com destino a Porto União e, posteriormente, se instalaram na Colônia São Miguel que, naquele tempo, fazia parte de União da Vitória. Cerca de um ano depois, em 11 de maio de 1925, nasceu Fredy, que neste mês comemorou 100 anos de vida.
Na terra natal, Arthur e Ana eram agricultores. Com o início da guerra, precisaram abandonar sua plantação. Ao retornar, não tinham o que colher. “As lavouras ficaram abandonadas. Depois iam colher o quê? Nada havia sido plantado”, relembra Fredy, explicando o motivo dos pais terem vindo para o Brasil.
A vida na Alemanha não estava fácil, mas a de imigrantes também se mostrou desafiadora. “Eu não sabia, só mais tarde que me contaram”, comenta o centenário sobre a pobreza enfrentada pelos pais e irmãos. “Viam um futuro escuro à frente”, completa.
Sali Baumann, uma dos seis filhos de Fredy, conta que os avós encontraram apenas mata fechada na região em que se instalaram, hoje pertencente a Porto Vitória. “Viviam em um ranchinho simples, com um fogão improvisado no chão, cozinhando quando havia o que comer.”
No início, a variedade de alimentos era escassa, com cardápio formado basicamente por mandioca e feijão. Se para a família a situação já era precária, para Fredy se mostrou ainda mais desafiadora, com uma condição que não permitia que o então menino consumisse a leguminosa.
Com o tempo, foram se estabilizando. Conseguiram plantar arroz e compraram uma cabra. Fredy recorda que, com esse acréscimo, incluíram no cardápio alguns pratos, como arroz com leite e sopa de leite. “Daí melhorou um pouco”.
Vida no campo
Sem conseguir plantar o suficiente nas terras que possuíam, a família decidiu buscar um espaço em Cruz Machado. Dois dos seis irmãos de Fredy foram até a cidade vizinha “com um machado nas costas”, recorda o senhor. Como não tinham dinheiro, ofereceram ao dono do local um boi como entrada no pagamento.
Nesse meio-tempo, a notícia de que os Baumann iriam embora se espalhou. Um dos primeiros comerciantes do local procurou Arthur, questionando se era verdade. “Aqui não adianta, não cresce nada” disse o pai de Fredy.
“Gente como vocês que deveriam ficar para ajudar a cidade a crescer”, respondeu o comerciante. Nessa conversa, o homem ofereceu a Arthur 28 alqueires de terra para que plantassem mandioca. O pagamento seria parte do produto produzido pela família.
Os irmãos de Fredy, que já estavam em Cruz Machado, voltaram para ver as terras ofertadas pelo amigo. “Para mandioca vale a pena”, concluíram. Pelo boi que ofereceram em Cruz Machado, puderam usar as terras durante dois anos. Plantaram milho e trouxeram a produção para casa em uma carroça.
“Hoje em dia é uma beleza, a gente vê a espiga de milho de longe, uma encostando na outra”, diz Fredy, comparando a situação das terras da cidade atualmente com relação ao ado. Segundo ele, foi a tecnologia que melhorou o solo. “Se não fosse isso, Porto Vitória estaria perdida”.
Com o exemplo dos pais e irmãos, Fredy também ou a trabalhar na roça, algo que faz com amor até hoje. Até pouco tempo atrás, o idoso enchia um carrinho-de-mão com verduras e ia de casa em casa vendendo sua produção.
Vale a Festa
Casado com Bronilde, Fredy teve três filhos e três filhas. A esposa morreu jovem, aos 49 anos, devido a um derrame. Foram os filhos mais velhos que ajudaram o pai a cuidar dos mais novos. “Quando minha mãe faleceu, a Cristina tinha apenas 09 anos. Eu assumi muitas responsabilidades ao lado do meu pai”, lembra Sali.
Quando estava na casa dos 70 anos, foi visitar a filha Sali na Alemanha. Para ele, o país de seus pais é muito calmo, preferindo, assim, o Brasil.
Atualmente, Fredy mora no mesmo terreno que o filho, Udo e a nora, Lori. Além deles, também vive no local a mãe de Lori, Luísa, que está prestes a completar 90 anos. “É uma benção de Deus poder estarmos morando juntos”, comenta Udo.
Mesmo estando todos tão próximos, Fredy gosta de sua independência e privacidade. Acorda bem cedo e toma uma xícara de café. Quando o clima está agradável, cuida da horta no quintal de casa. A alimentação é à base de verduras, praticamente não consome carne. Seu prato preferido é um mingau de aveia com leite e açúcar. “O pai não incomoda nem um pouco”, relata Udo.
Para comemorar a data tão especial de 100 anos, os filhos e familiares de Fredy organizaram uma festa para cerca de 150 convidados, celebrada no sábado, 04 de maio. Os gatos com a festança não foram poucos, e o idoso tirou dinheiro do próprio bolso para ajudar na comemoração, sem arrependimento. “Com 100 anos vale a pena fazer uma festa”.